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segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Introdução

Uma primeira classe de métodos de leitura da Bíblia é constituída pelos assim chamados métodos científicos: o Método histórico-critico e o método semiótico ou também chamado estruturalista são os dois grandes métodos científicos mais praticados actualmente. Por não fazerem directamente parte do nosso estudo, vamos prescindir deles. Os métodos que aqui nos interessam são os que poderíamos chamar MÉTODOS PASTORAIS DE LEITURA DA BÍBLIA. Mas queremos, desde já, desfazer alguns possíveis equívocos: Mais do que métodos propriamente ditos, trata-se de modos de ler, de perspectivas de leitura, numa palavra, de métodos em sentido amplo. Outro possível equívoco: os métodos científicos referidos são métodos de investigação bíblica, em sentido estrito; mas os "Métodos pastorais", longe de prescindir deles, pretendem levar à prática as aquisições dos métodos científicos e levar eficazmente a leitura da Bíblia ao povo.

Por outro lado, é mediante estes últimos métodos que os primeiros atingem os seus objectivos, pois todo o estudo científico tem uma finalidade essencialmente pastoral. Uma das grandes dificuldades da Igreja, ao longo da sua já longa História - numas épocas mais do que noutras - foi precisamente a de saber traduzir a linguagem da Bíblia para os fiéis. Tudo quanto afirmamos é justamente ressaltado em todos os documentos da Igreja sobre a Bíblia[1]. Por isso, não se percebem tantas reticências quanto ao uso da Bíblia, nem os receios de falsas interpretações devidas à leitura da Bíblia pelo povo. Se a Bíblia nasceu dum povo e foi sempre o livro do povo - e não apenas dos exegetas e do clero - a principal tarefa da Igreja estará em ensinar o povo a ler e a compreender a Bíblia como Palavra de Deus. Não podemos voltar a um passado, mais ou menos remoto, em que se retirou o pão da Bíblia das mãos do povo, oferecendo-lhe, em troca, o alimento de muitas devoções de valor cristãmente duvidoso. Para acabar com todos os equívocos, o Concílio Vaticano II afirmou solenemente:
"A Igreja venerou sempre as divinas Escrituras como venera o próprio Corpo do Senhor, não deixando jamais, sobretudo na sagrada liturgia, de tomar e distribuir aos fiéis o Pão da vida, tanto da mesa da Palavra de Deus, como do Corpo de Cristo"
(DV 21).
A Igreja parte da convicção de que é a Palavra de Deus que há-de renovar a pastoral dos seus agentes e a vida dos cristãos e das comunidades: Deus, que outrora falou, dialoga sem interrupção com a Esposa do Seu amado Filho; e o Espírito Santo - por Quem ressoa a voz do Evangelho na Igreja e no mundo - introduz os crentes na verdade plena e faz com que a Palavra de Cristo neles habite em toda a sua riqueza (ver Col 3,16). A este propósito, o card. Martini diz que um povo que não utiliza a Palavra permanece passivo e mudo, a ouvir e a calar, não cresce na comunhão do mistério e não pode exprimir na vida a sua fé.

As experiências levadas a cabo tanto em países culturalmente avançados como menos avançados testemunham, por um lado, a ignorância quase total do que é a Bíblia e a falta de convicção da sua necessidade, o que se deve a uma catequese muito deficiente; por outro lado, sentiu-se a necessidade duma leitura simples e popular da Bíblia, acessível a todas as pessoas.
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[1]. "Considerando as imensas fadigas arcadas pela exegese católica durante quase dois mil anos, para que a Palavra de Deus, comunicada aos homens nas Sagradas Letras, se compreenda cada dia mais perfeitamente e mais ardentemente se ame, surge espontânea a convicção de que os fiéis, e particularmente os sacerdotes, têm o grave dever de aproveitar larga e santamente aquele tesouro acumulado durante tantos séculos pelos maiores talentos. Deus não deu aos homens os livros santos para satisfazer a sua curiosidade, ou para lhes oferecer matéria de estudo e investigação, mas, como adverte o Apóstolo, para que estes divinos oráculos nos pudessem levar à salvação pela fé em Jesus Cristo" a fim de que o homem de Deus seja perfeito e apto para toda a boa obra" (Divino Afflante Spiritu, nº 26 in Alves, H., Documentos da Igreja sobre a Bíblia, p. 184).

Extraído de http://www.capuchinhos.org/porciuncula/ler_biblia/introducao.htm acesso em 18 ago. 2008.

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