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quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Jesus e os Pobres

Deu no CCFMC Boletín Abril de 2007:
A Sua vida começa num estábulo entre pastores pobres. Para salvá-Lo dos perseguidores herodianos, Seus pais fogem para o Egito. Depois de ter voltado do exílio Ele cresce na cidade insignificante de Nazaré, “da qual não pode resultar nada de bom”, quer dizer, cresce no meio de pessoas que pertenciam aos iletrados e pobres da sociedade. Mas, já nessa altura, a Sua missão e a Sua predileção manifestava-se numa visão profética. Segundo Lucas, Maria canta a canção daquela esperança que brota com Jesus: “Derruba do trono os poderosos e eleva os humildes; aos famintos enche-os de bens, e despede os ricos de mãos vazias.” E o velho Simeão vê Nele “um sinal de que serão elevados aqueles que agora estão deitados no chão e de que cairão aqueles que agora aparecerem com toda a glória.”

Ao princípio dos Seus atos públicos, esta visão profética é completamente confirmada. Precisamente em Nazaré é que Ele profere o Seu discurso programático com o qual descreve a Sua missão: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos, e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor.” Os visitantes estavam surpreendidos olhando para Ele cheios de curiosidade. “Então Jesus começou a dizer-lhes: “Hoje cumpriu-se esta passagem da Escritura que acabais de ouvir.” (v. Lc 4, 16-22) Jesus, portanto, confirma o que está escrito em Isaías. Tem uma predileção pelos pobres, fracos, marginalizados, pelas vítimas. Pelo que vai pagar, finalmente, com a sua vida.

No centro das experiências de Francisco de Assis encontra-se precisamente este Jesus dos Evangelhos ao qual quer seguir incondicionalmente e “sine glossa”. Para ele, Jesus não é tanto o Juiz e Rei que reina em glória e que faz milagres e diz palavras de grande peso, mas o Cristo pobre: sem posses, nu no presépio e nu na Cruz. Desde esta perspectiva é que Francisco vê o mundo, os homens e Deus. Não precisa das interpretações dos teólogos para descobrir o Cristo dos Evangelhos.

Assim, o conflito com a Igreja é inevitável. A tensão entre o Evangelho interpretado radicalmente e a instituição da Igreja, já então, levava a conflitos e rupturas dolorosos. Francisco só podia evitá-los vivendo numa dupla lealdade. Uniu a sua fidelidade para com a Igreja com uma predileção radical pelos pobres. Nunca teria traído estes a favor duma atitude livre de conflitos. Estava demasiado seguro “de que Deus mesmo lhe desvendou viver em conformidade com o Santo Evangelho,” como escreve no Testamento.

Este problema é, em princípio, também tratado no debate sobre a teologia de Jon Sobrino, debate que se desencadeou pela “Notificatio” de Roma. Sobrino tenta observar o Evangelho desde o ponto de vista dos pobres, interpretando-o de maneira que o mesmo se há de tornar para estes numa mensagem que gere a vida. Fá-lo porque também Jesus Cristo se identificou com especial carinho com os mais fracos e os mais pobres. E porque os povos feitos pobres da América Latina não podem experimentar verdadeiramente que Deus os ama. Por isso, pode dizer - como Francisco: “Estou em paz, mesmo se tudo isto é muito desagradável.”

Andréas Müller OFM
Extraído de http://www.ccfmc.net/wPortugues/cbcmf/cbcmf-news/2007/2007_04_News.shtml?navid=93 acesso em 27 ago. 2008.

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