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quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Medir-se com Francisco

Deu no CCFMC Boletín Setembro de 2007:

Como é possível que, passados 800 anos, Francisco ainda seja estimado e admirado por todo o mundo, quer por cristãos ou não cristãos? Os leitores do “Times”, inclusivamente, colocaram-no em primeiro lugar das personalidades mais importantes do último milênio. E se quisermos saber porque é assim, podermos constatar o seguinte: não são as suas palavras, mas sim a sua vida. É como um livro aberto, o Evangelho vivo que consegue convencer melhor do que todos os comentários inteligentes que nós, teólogos, possamos fazer.

Em tudo o que Francisco fazia e falava, nota-se sempre esta convicção inalienável: só faço aquilo que Deus mesmo me insinuou. Assim foi já na altura da sua vocação. No seu testamento escreve que, quando estava procurando e perguntando, ninguém foi capaz de lhe dizer o que devia fazer, “nem o papa e nem os bispos, nenhum abade nem outro qualquer. Deus mesmo se me desvendou. Foi a chamada de Deus que me fez abandonar o mundo” (Test 14). Tinha esta sensibilidade pela presença de Deus desde a altura do seu histórico encontro com o leproso. Foi uma mudança radical de posição para o lado dos marginalizados e pobres da sociedade. Foi o começo da sua sucessão conseqüente do pobre Jesus de Nazaré. Torna-lhe a “forma de vida”, a chave para uma compreensão nova do Evangelho. Esta só se torna viva se tomarmos a sério o Cristo inteiro, o Deus humilde no presépio de Belém e o Cristo que sofre em Gólgata. Só encontraremos este Deus se nos fizermos pequenos como Ele e se O descobrirmos no irmão que sofre, na irmã que sofre. Esta foi, no fundo, toda a missão de Francisco: ser pobre, seguir a doutrina e as pegadas de Jesus anunciando o Reino de Deus.

Por isso, Francisco é considerado como renovador e salvador da Igreja no fim da Idade Média. E isto como leigo, sem formação teológica e sem um mandato especial. Para o seu caminho radical nas pegadas de Jesus de Nazaré não tinha nenhum mandato da Igreja. Foram os leprosos que lhe abriram os olhos. Foi-lhe tão importante que, pouco antes da sua morte, quando ditava o seu testamento, chama primeiro a atenção sobre este fato. Quis lembrar todos os seus sucessores que tudo começou assim: a sua mudança de posição desde o Assis rico até aos arredores da cidade, a sua vida nova ao lado dos pobres como sucessão conseqüente do pobre Jesus de Nazaré. Não fundou uma ordem de padres para a renovação da Igreja e nenhum seminário para a formação de missionários. Os irmãos que o seguiram, seguiram-no simplesmente. Quiseram viver o Evangelho como ele, independentemente de serem sacerdotes ou leigos, numa comunidade pobre de irmãos, todos com os mesmos direitos e todos com a mesma missão, que era, anunciar a todo o mundo o Evangelho do bom Deus humilde e amigo dos homens.

O que foi então e o que foi válido para Francisco ainda vale hoje em dia. A mera missão por meio de consagração e missão não chega para um mensageiro da Boa-nova. A quem o coração não arder não poderá inflamar o mundo. Quem não sentir a voz de Deus será dificilmente capaz de O testemunhar entre os homens. Segundo Francisco isto é válido para sacerdotes e leigos, para homens e mulheres. Todos são chamados e instruídos de testemunhar o Evangelho. Só se tomarmos isto a sério e tratarmos-nos fraternalmente reciprocamente , o Evangelho poderá convencer. E então os leigos não são “suplentes”, mas sim meramente irmãs e irmãos que foram confiados com a mesma preocupação pelo Reino de Deus. Visto assim, Francisco nos pode realmente encorajar de novo ao nosso serviço dentro da Igreja e no mundo. Se nos medirmos com Francisco, então seremos também hoje um sinal de esperança para os “cansados de carregar o peso do seu fardo” deste mundo. Isto nos deveria mover e animar como Família Franciscana, quando comemorarmos, no princípio de Outubro, o dia da festa de S. Francisco.
Andreas Müller OFM Extraído de http://www.ccfmc.net/wPortugues/cbcmf/cbcmf-news/2007/2007_09_News.shtml?navid=93 acesso em 28 ago. 2008.

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