Arquivo do blog

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Termos chaves franciscanos

Deu no CCFMC Boletín Junho de 2008:
Raras vezes se poderá conseguir apresentar matérias complicadas ou mesmo temas de disputa teológica duma maneira tão simples para que todos possam compreendê-los. Os 70 participantes, aproximadamente, prove-nientes de 15 países asiáticos, num seminário de retiro espiritual, que se realizou em Bangkok de 18 a 28 de Maio, viveram um momento tão sublime. Foram tratados termos muitas vezes mal interpretados como a “opção pelos pobres” e a “teologia da libertação” duma óptica franciscana. O teólogo franciscano Fr. William J. Short OFM da Califórnia magistralmente conseguiu fazer compreender esta mensagem originariamente franciscana.

Pobreza franciscana não tem nada que ver com exercícios ascéticos de auto-santificação e misericórdia caritativa, como se compreendia tantas vezes no decurso da história dos 800 anos do movimento franciscano, mas exclusivamente com a realização duma justiça que se deve aos pobres. Trata-se das preocupações e das necessidades que os pobres precisam para levarem uma vida em dignidade. O direito a esta vida foi-lhes trazido pelo Deus feito Homem em Jesus de Nazaré. Ele, Que era rico fez-se pobre para anunciar aos pobres a mensagem libertadora do Reino de Deus vindouro marcado por justiça, misericórdia e amor. Quem se rodear de abundância declarando que só ele tem o direito de possuir reivindica aquilo que pertence a todos. Quem não for capaz de compartilhar recusa aos pobres aquilo a que têm direito.

Francisco de Assis torna-se libertador dos pobres porque compreendeu esta mensagem. Foi um caminho longo até que o filho dum comerciante rico descobrisse os mecanismos econômicos do desejo de querer ter e possuir, mecanismos que excluem uma parte dos homens duma vida digna. A seguir abandonou o sistema para levar, como alternativa, uma vida que não excluiu ninguém: uma vida entre os pobres e com os pobres.

Foi não só uma mudança de posição social mas sim uma mudança da óptica. Francisco aprendeu e compreendeu a Bíblia de novo desde o ponto de vista dos pobres; viu e compreendeu que foi precisamente o Cristo pobre Que encontrava nos pobres. E compreende finalmente que a sua visão sonhada de erguer novamente a Igreja de Cristo consistia principalmente em criar, na Igreja, uma pátria segura para os pobres. Pois esta é a verdadeira Igreja de Cristo, o lugar no qual os pobres encontram Cristo, o irmão dos pobres experimentando o amor de Deus.

E precisamente isto é o objetivo fundamental da teologia da libertação em redor da qual houve tantos mal-entendidos. Deus mesmo é Quem escolheu os pobres pondo-se ao lado dos mesmos como dizia sempre pelos profetas e testemunhou no seu Filho predileto. Jesus de Nazaré é a “Boa Nova” para os pobres do Reino vindouro de Deus no qual também eles vão participar na abundância da vida. Têm o direito a isso porque Deus os criou por amor à vida. Deus não quer miséria e desgraça. As estruturas injustas pelas quais os pobres são feitos pobres são um pecado; pecado contra o plano de Criação de Deus como é descrito na Bíblia e segundo o qual não deve faltar a ninguém aquilo que for necessário para uma vida digna. “Vai e vende tudo o que tens e dá-lo aos pobres”: esta frase lapidar de Jesus dirigida ao jovem rico e que também comoveu tanto o jovem rico Francisco, quer dizer que nós só compreendemos a lógica do Reino de Deus quando não recusarmos aos pobres aquilo a que têm direito. Sem justiça não é possível que haja amor autêntico.

Planos de ação muito concretos a corajosos para o futuro imediato em muitos países da Ásia demonstram que as irmãs e os irmãos da Ásia compreenderam , nos 10 dias do retiro espiritual, como nós temos de traduzir estes termos chaves da espiritualidade franciscana para os nossos dias.
Andréas Müller OFM

Extraído de http://www.ccfmc.net/wPortugues/cbcmf/cbcmf-news/2008/2008_06_News.shtml
acesso em 21 ago. 2008.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Firefox