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domingo, 5 de outubro de 2008

Francisco sempre é atual

Deu no Instituto Humanitas Unisinos:
Os que pertencem à grande família franciscana, quer sejam religiosos, religiosas ou leigos, vivem cotidianamente das intuições do “Poverello” de Assis.

A reportagem é de Marilyne Chaumont, Pierre-Louis Lensel e Martine De Sauto e publicada pelo jornal La Croix, 27-09-2008. A tradução é de Benno Dischinger.

Abertura aos outros e ao universal. Mas, também pobreza, contemplação da Criação, fraternidade, alegria. Palavras-chave para aqueles, religiosos ou leigos, que vivem da espiritualidade do “Poverello” e compõem a família franciscana. Entre eles, os franciscanos e os capuchinhos, herdeiros dos frades menores fundados por Francisco, as religiosas Franciscanas pertencentes a numerosas congregações apostólicas.

Franciscanos e capuchinhos querem “tornar atual o percurso de seu fundador”.

“Ser um discípulo de Cristo à maneira de São Francisco”. Para o padre Benoit Dubigeon, provincial dos frades menores para a França e a Bélgica, esta aspiração, da qual deriva o carisma franciscano, se declina de três modos: Uma vida de oração e de contemplação no mundo. “São Francisco dizia: “Nosso claustro é o mundo”, recorda. Uma vida de missionário que busca “tornar o Reino de Deus acessível a todos, em particular aos mais frágeis, o que pressupõe que sejamos humildes e acessíveis”. Uma vida de fraternidade, e “isto significa procurar ser irmãos de todos os homens e de todas as criaturas, o que nos leva, por exemplo, a interessar-nos por problemas como a salvaguarda da Criação ou o diálogo inter-religioso”.

Gilles Rivière, capuchinho em Paris, completa: “Agrada-me o acento posto sobre a fraternidade no pensamento e na ação franciscanas. Francisco deixou-nos um programa de fraternidade universal. Quis ir ao encontro de todos: pobres, poderosos, enfermos, cristãos, muçulmanos, procurando sempre uma relação autêntica, um caminho fraterno para o outro, além das pressões e dos medos”. Quando é interrogado sobre as razões de sua entrada junto aos capuchinhos, padre Gilles afirma que buscava o lugar onde encontrasse “o máximo de felicidade de viver e de liberdade”. Uma liberdade essencial, aos seus olhos, no pensamento e na ação franciscanas.

“A constrição não é uma maneira de convencer: a autenticidade do amor é a verdadeira sedução, diz ele. Agrada-me também a vontade, em nossa tradição, de enfrentar os problemas e de ler o evangelho na medida do homem. Tendemos a escolher as portas pequenas antes do que as grandes”. Além disso, para Gilles Rivière, outra característica essencial da família franciscana é a posição “ao mesmo tempo destacada, mas também plenamente para dentro da sociedade” “É o que nos leva, com freqüência, a sermos considerados monges”, diz divertido, antes de acrescentar, muito sério: “Esta posição permite procurar a distância necessária para tentar refletir melhor para agir melhor”.

Para ambos, a família franciscana ainda tem, em seu jubileu, um papel a desempenhar no mundo. “O aspecto importante do nosso jubileu é tornar atual o percurso de nosso fundador, sublinha o padre Dubigeon. Devemos trazer à memória aquilo que ele nos deu e ter a audácia de apresentar gestos novos, inspirados em sua mensagem. Isto implica em sermos “conectados” com a vertente que é sua obra para apresentarmos gestos fecundos, sem o que se corre o risco de ser “azafamados sem fazer nada”.

As irmãs franciscanas na escola do Pobre de Assis

Hoje septuagenária, a Irmã Jacqueline, professora, entrou a cinqüenta anos na Congregação das Franciscanas missionárias de Maria. Sua vida se desenvolveu entre o Congo Brazzaville, a Algéria e a Tunísia, depois em Roma, antes de voltar a Paris, onde é antes de tudo responsável por um pensionato estudantil. Seduzida inicialmente pela alegria e pela abertura das franciscanas, insiste na “humildade e na arte de não se levar demasiado a sério” que as caracterizam, e na atenção aos mais pequenos (refugiados, afetados por AIDS, prostitutas...), à não-violência e à busca da justiça. Os “círculos do silêncio”, organizados em diversas cidades francesas para protestar contra a prisão dos clandestinos, ou a ação da ONG “Franciscains international” na ONU, são disso bons exemplos.

Membro da mesma Congregação, Irmã Lucienne, 55 anos, enfermeira, passou 23 anos em Aïn Draham (na Tunísia), uma cidadezinha de montanha onde dirigia um orfanato. Atraída “pelo equilíbrio entre ação e contemplação” e “pelo espírito de paz, de alegria e de reconciliação”, reconhece o valor do exemplo que tem para ela o encontro “gratuito” de Francisco com o sultão do Egito em Damietta no ano de 1219. “Francisco, com seu modo de aceitar o outro em sua diferença, de maravilhar-se em ver como o outro traz alguma coisa de Deus e o transmite, permite-me responder à minha vocação, explica. É um modelo para viver isto na terra do Islã, onde não se pode evangelizar em alta voz, mas onde tudo o que se faz com amor é sinal da presença de Deus, de sua encarnação no mundo”.

Irmã Marie Claude, 43 anos, do Instituto das Irmãs de São Francisco de Assis (nascido da união de sete congregações), fala também ela da simplicidade, da alegria, da disponibilidade para os outros, da humildade. E acrescenta aquela que ela chama, no seguimento de Francisco, a preocupação “de fazer-se mais pequena”, de não dominar o outro. Enfermeira coordenadora no Accueil Saint-François, casa de repouso de Fontenay-sous-Bois (Val-de-Marne) que acolhe 51 pessoas, das quais 14 atingidas pelo mal de Alzheimer, deseja ver em cada pessoa um ser amado por Deus, “mesmo que se trate de uma pessoa desorientada ou demente”. “Isso requer uma forma de despojamento, de distanciamento de certo pendor ao domínio, reconhece. Mas, estas pessoas me ensinam a gostar também das relações simples, das pequenas “florzinhas” da vida.

Clarissa no mosteiro de Sainte-Claire de Cormontreuil (no Marne), Irmã Elizabeth, de 61 anos, é sensível à capacidade de maravilhar-se ante Francisco de Assis, a quem “o Espírito Santo havia dado a capacidade de ter um novo olhar sobre cada ser, sobre a criança, sobre a Igreja”.Aquela capacidade, ela se esforça em cultivá-la em comunidade ou em seus momentos de releitura da vida, “para continuar discípula de Clara e de Francisco, e de Cristo pobre. Sinto-me na sua escola”.

O Pobre de Assis, primeiro da fila para os jovens da ordem secular.

“A Regra de vida dos franciscanos seculares é a seguinte: viver o Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo seguindo os exemplos de São Francisco de Assis, que fez de Cristo o inspirador e o centro de sua vida com Deus e com os homens”. É neste espírito do artigo 4º da Regra que os leigos da Ordem franciscana secular (OFS) que os leigos escolhem seguir os passos do mendicante de Assis no mundo. No decurso dos séculos, “terciários” (membros da ex- ordem terceira franciscana, predecessora da OFS) de diversos níveis os precederam, como São Luiz ou o beato Federico Ozanam: “Nossa especificidade é viver o Evangelho com uma coloração franciscana: certo distanciamento ante as coisas, uma alegria simples, uma relação privilegiada com a natureza da qual Francisco cantava a beleza, uma confiança no Evangelho, indica Régis Laitier, responsável nacional da OFS, subdividida em fraternidades. Procuramos viver de maneira humilde e pobre”. Uma regra de vida que se empenham a seguir os membros da OFS, fazendo profissão.

Na França são 3000, no mundo chegam a 400 000 – e se percebe neles um frêmito, em particular nos jovens desejosos de colocar-se na escola do Pobre de Assis. Em Cholet, em torno dos religiosos, ou em Arras, junto às clarissas, nascem pequenos núcleos que se juntaram à OFS quando se organizaram como Juventude franciscana. “Estes grupos nascem com freqüência em torno de um convento ou de um mosteiro”, explica Gaëtane Markt, encarregada da comissão jovem da OFS, para a qual o fundamento da Juventude franciscana é “acompanhar um jovem num caminho de vocação – em sentido amplo – ajudando-o a crescer de um ponto de vista humano, espiritual e franciscano”.

Em Bitche (Mosela), a fraternidade local, composta por famílias, por leigos consagrados e por padres diocesanos, hospeda uma Juventude franciscana muito vivaz: jovens dos 16 aos 30 anos vêm para aí encontrar “a alegria, o amor fraterno, a prece, a música, uma formação intelectual”. “São coisas que me dizem que efetivamente é possível ser hoje um jovem “no” mundo, sem ser “do” mundo”, resume Marie Feillet, de 20 anos, que pertence à Juventude franciscana local. Com os outros membros da fraternidade ela se reúne para encontros de fim de semana, peregrinações a Assis ou a Fátima, dias de retiro ou campings estivos que favorecem o crescimento humano e espiritual. Sempre se inspirando no “primeiro da fila” que deve conduzi-los a Cristo.

“São Francisco viveu o Evangelho com uma radicalidade surpreendente, afirma Marie Feillet. Despojou-se de tudo para receber tudo de Deus. Viveu no amor que levava aos seus irmãos. São estes aspectos da vida de São Francisco que me impeliram a entrar na Juventude franciscana. É um caminho de santidade, para tornar-se fascinador e viver no coração de Deus. ‘Aonde vai, Francisco? Vou mostrar-lhes o Amor’.”

Extraído de http://www.unisinos.br/ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=17158 acesso em 05 out. 2008.

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