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terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Francisco de Assis, o mais católico dos cristãos

Anderson dos Santos Moura

Francisco nasceu em 1182; portanto, em fins do século XII; época dos profundos questionamentos sociais que iniciaram-se em meados do século XI. Esses questionamentos deram-se, sobretudo, no campo religioso. Enaltecia-se o ideal de pureza dos cristãos primitivos, numa espécie de "volta às fontes".
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Seu exemplo atraiu homens que quiseram seguí-lo e viver como ele - pelo menos os primeiros - e inspirados nele.

Permaneceu leigo, sem ostentar a honra de ser clérigo. Desprezo e desapego por honrarias que apresentou, também, ao rejeitar os estudos para si e para os seus; talvez por ter observado o quanto eram gananciosos e afastados de Deus, os comerciantes e contadores que trabalhavam com seu pai; ou, também, por achar que a intelectualidade levava a sobreposição de classes.
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Acredito que uma genialidade não pode ser forjada a esse ponto; contudo, não posso deixar de crer no "poder de mídia" que a Igreja tinha na época, que com certeza foi fator fundamental para a gestação do grandioso mito que se formou no imaginário popular.
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Francisco não foi inovador nos seguintes aspectos: o modo cortês, do ideal da cavalaria; eremitismo e peregrinação (antes de sua conversão); ideal de pobreza; preferência à vida laica; a volta ao ideal cristão primitivo; a pregação do Evangelho.
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Francisco, no início de sua conversão, por volta de seus vinte anos de idade, pôs-se em peregrinação, um costume comum de sua época; depois optou pelo eremitismo, bem como o ideal de pobreza. Ora, estas experiências religiosas começaram a tomar força em meados do século XI, quase dois séculos antes do nascimento de Francisco, quando no Ocidente abria-se caminho a exigência de aprofundamento do campo religioso, e se observava um grande número de experiências que caracterizavam-se pela vontade de voltar à pureza original do cristianismo; porém, muitos desses grupos que se formavam como os Cátaros, Valdenses e Humilhados, não caminhavam conforme a orientação da Igreja; no exemplo dos Valdenses que, não respeitavam a proibição aos leigos de pregar e, por isso, foram considerados heréticos.
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Ao contrário dos primeiros grupos e, creio eu, consciente dos erros e insucessos destes, procurou executar sua missão apostólica com o aval da Igreja. Missão apostólica esta que realizou no meio urbano, onde estava se formando uma considerável população. Enquanto outros grupos de penitentes viviam isolados no meio rural, ele optou por viver em contato com as cidades, nos subúrbios que se formavam, atendendo assim às novas aspirações, espirituais e demográficas.
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Francisco foi, por orientação da Igreja, levado a preparar uma Regra para sua recém-fundada Ordem; mas não achava necessária uma Regra, pois o Evangelho por si só já bastava, porém, teve que ceder para se adaptar às imposições da Igreja. Francisco, bem como o seu movimento, foi absorvido pela Igreja sim. Deixou-se influenciar, mas também influenciou. Francisco no seu caminho de adaptação à essas normas e consequente institucionalização da ordem; e a Igreja no seu projeto de adaptação e abertura ao laicato, tornaram-se intrínsecos. Os dois lados tiveram que ceder.
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Francisco, no meu ver, representa uma opção particular do seguimento de Cristo; foi o mais católico dos cristãos. O rumo que sua ordem de seguidores tomou, fugindo assim dos seus ideais mais particulares, pode tê-lo enchido de desgosto, mas isso aconteceu porque esses ideais começaram a receber influências externas a ele; e passar, de um plano pessoal, para um plano coletivo. Afinal, uma ordem não se faz de um homem só; por mais "santo" e inspirador que ele seja.
Leiam na íntegra em http://www.ifcs.ufrj.br/~frazao/andersonmoura.htm

Ilustração: PORTINARI. São Francisco de Assis. 1942.
Pintura a têmpera/madeira
140 x 35cm (aproximadas)

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