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terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Francisco e Clara da terra de Assis

Francisco e Clara da terra de Assis
Reflexões de um peregrino em Assis no tempo do inverno
Por Frei Almir Ribeiro Guimarães,OFM (*)

Francisco se enamorou de Cristo. As chagas de Cristo feriram seu coração, antes de marcarem seu corpo no Alverne. Ele podia dizer com Paulo: Não sou eu quem vivo, mas Cristo que vive em mim.
Palavras de Bento XVI em visita a Assis
1.
Na medida em que a vida vai se desdobrando vamos guardando lembranças das casas e dos lugares onde vivemos. Eram nossos antigos endereços. Com o passar do tempo, as casas de nossa infância ou juventude desaparecem, são destruídas. Cedem lugar a edifícios, fábricas e estradas, são demolidas ou desapropriadas. Lembro-me da casa de minha infância na Vila dos Sargentos, em Petrópolis. Ela não existe mais. Depois de destruída não ficou pedra sobre pedra. Mas ela vive dentro de mim: o quintal, as socas de hortências, o pé de lima, o balanço, o fogão de lenha, a festa do Natal, o pai, a mãe, a irmã, os vizinhos, a vida vivida ali. Os lugares são importantes. Penso que alguma coisa emana de cada um de nós e gruda-se nas pedras, nos tijolos, nas paredes, nas calçadas por onde fomos passando... Um dia desses, eu e minha irmã estivemos diante das ruínas de nossa casa. Estávamos colocando como que um gesto religioso. Que saudade de tantos lugares, mas também de tantas pessoas, nesses muitos lugares. Os lugares são importantes devido às pessoas que neles viveram. Quando um franciscano resolve estar um pouco em Assis é para voltar à casa das origens, arrumar as recordações e descobrir algum mistério novo que possa dar forças para continuar a viver. Afinal de contas, os franciscanos, mesmo sem ir a Assis, conhecem a cidade. Os escritos de Francisco, as biografias antigas e novas, as fotos, os temas de retiro, esses livros todos que passam por nossas mãos. Os lugares de Assis evocam a vida de Francisco, de Clara, de Fra Jacoba, de Frei Leão, dessa gente toda que povoa de alegria nossa vida. Ir ao lugar onde viveram não é fazer turismo. É tentar ainda hoje ler o que está escrito nas pedras, escutar o ruído do ar, sentar-se nos mesmos lugares em que eles se sentaram para reencontrar o mistério de nós mesmos e nos lançarmos com novas forças na Graça das Origens... Quando éramos quase crianças, Francisco veio pedir que lhe déssemos licença para que ele nos tomasse pela mão e, com ele, fizemos a vida. Passa tudo tão depressa. Os franciscanos são hóspedes do coração de Francisco. Normal que eles gostem de Assis.

2.
Assis não é longe de Roma. De trem 182km. E a passagem é barata: 9,40 euros. Um café expresso custa 1 euro e um sanduíche pequeno 3 ou 4 euros. Verdade que não é trem rápido. Na tarde daquela segunda-feira chovia em Roma. Ventava muito. Na desconfortável estação Termini de Roma as pessoas iam de um lado para o outro encasacadas, encapuçadas, com rosto sério. Dois jovens bem vestidos conversavam animadamente. Depois se separaram com um sorriso de amizade e um monte de ciao. Anunciou-se que o trem com destino a Ancona, e que passaria por Foligno, onde os passageiros para Assis fariam baldeação, estava com atraso. Na verdade, ele saiu com mais de vinte minutos de ritardo. No caminho via-se neve, mais ou menos no meio da viagem, perto e longe dos trilhos... uma boa camada de neve. Esse tempo bruto explicava os atrasos do trem. Meu destino era, pois, Assis. A noite já havia caído quando desci na estaçãozinha da cidade, bem perto de Santa Maria degli Angeli. Enrolei-me nas roupas que tinha, coloquei o capuz de um blusão na cabeça e fui deslizando minha mala de rodinhas pela chuva, poças de água, até chegar à portaria. Não podia deixar de me lembrar do episódio da perfeita alegria... Será que o porteiro iria me receber bem? Abriu a porta, olhou para mim, parece que viu que meu nome estava entre os hospedes, parece..., chamou o custódio que não foi encontrado... fui acompanhado por um frade de certa idade com capuz na cabeça e aquela capa enorme que conhecemos na Província... Será que em algum convento ainda existe uma daquelas capas? Penso que o Fr. Taciano do Convento Santo Antônio tinha uma delas. Se alguém souber, avise-me por favor. E assim estava eu em Assis, na terra dourada, mesmo se naquela hora a chuva irritasse até à alma... No corredor superior, amplo, limpo e bem iluminado, encontrei o custódio-guardião que me recebeu com cordialidade. Seu nome é Fabrizzo. Logo vesti o hábito, desci à basílica, olhei a capelinha de Nossa Senhora dos Anjos, vislumbrei a Capela do Trânsito e fui rezar as vésperas com a comunidade, todos os frades de hábito, o hebdomadário de sobrepeliz, os clérigos e os frades todos presentes, um no órgão, oficio cantado com boa pausa depois da leitura breve. E muitos leigos presentes... De sete e meia até oito fizemos meia hora de meditação. Estava em Santa Maria dos Anjos e começava a pensar, a olhar as pedras, a ver, a fechar os olhos...Dormi bem, num quarto limpo e aquecido, ao menos até meia noite... depois parece que não. Acordei várias vezes.

3.
Há os que não apreciam esse conjunto da Porciúncula, ou seja, a capelinha de Nossa Senhora dos Anjos, dentro dessa enorme basílica. Certa vez, não me lembro quem, me dizia que gostava de tudo em Assis menos dessa história de uma igrejinha coberta por uma basílica... Fato é que estar em Santa Maria dos Anjos é uma graça... Aqui, mais do que em qualquer outro lugar, as pedras falam. Não preciso nem quero escrever a respeito de tudo. Nós, frades, conhecemos tudo. Há uma alegria interior muito grande em estar perto ou no interior desta capela. Evocações mil... a capelinha restaurada por Francisco, o dom dos beneditinos, a vida dos frades, os capítulos, a alegria dos encontros, a vida fraterna e alegre, a chegada de Clara, a proximidade de Maria, o perdão de Assis, a descoberta do evangelho da missão. Aliás, há um imenso cartaz no átrio da Basílica referindo-se à missão, com frase do evangelho: "Enviou-os dois a dois" (Li mando a due a due) Tudo na Porciúncula é fascinante e importante. Fatos demais, graças demais, eventos demais. Na verdade, a grande basílica não cobre apenas uma capela, mas duas. Além da Nossa Senhora dos Anjos, há a Capela do Trânsito. Quantas evocações!

3. Na pequena capelinha da Porciúncula, Francisco acreditou ter recebido uma resposta fundamental da parte de Deus às suas buscas. O Evangelho da missão, dois a dois, era a grande resposta. O Senhor ali lhe fazia uma revelação fundamental: ele e os seus iriam pelo mundo, dois a dois, dizendo que chegou o tempo propício, pedindo a conversão do coração, anunciando a paz, reunindo as pessoas para acolherem a visita de Deus. Os franciscanos seriam missionários e anunciadores de uma grande alegria interior... Era isso que Francisco queria de todo o coração. Um ir dois a dois, pregando pela palavra e pelo testemunho. Chegam à minha mente o nome de tantos pregadores franciscanos: Bernardino de Sena, João de Capistrano, Tiago das Marcas, Leonardo de Porto Mauricio, Frei Bruno de Rodeio, Frei Mateus Hoepers, Frei Estanislau Schaete, Frei Jerônimo Back, Frei Tadeu Hoeninhausen... Pregar, sem vontade de aparecer. Pregar a Palavra. Fazer com que as pessoas desobstruam a estrada do coração para que a Palavra possa germinar. Felizes os que ouvem a Palavra de Deus com um coração acolhedor. Esses são os verdadeiros parentes de Jesus, sua mãe, seus familiares, seus irmãos. Uma Ordem apostólica que haveria, de alguma forma, de repetir a paixão evangelizadora dos primeiros tempos apostólicos. Ir pelo mundo, dois a dois. Não se deixar envolver por estruturas pesadas. Os franciscanos sempre provocam inquietação com seu modo de viver, de falar, com seu jeito evangélico de estar perto das pessoas, mesmo quando isso acontece no serviço paroquial. Nossas preparações para o casamento, batismo são diferentes. Fogem do legalismo, se tornam espaços de diálogo e de encontro. Os franciscanos têm o gosto do encontro. Nossas celebrações respeitam as rubricas, mas colocamos o coração nas palavras que dizemos e nos gestos que fazemos, com simplicidade, sem pompa vazia. Sempre escutamos a ordem de ir pelo mundo, à maneira de Francisco... A Porciúncula evoca essa ordem de ir dois a dois, fraternamente, pelo mundo... Num tempo de sínodo da Palavra, como Francisco, servimos as odoríferas Palavras do Senhor. Uma Província que faz missão em Malange ou Kibala, mas que precisa evangelizar todas esses paróquias que, talvez, estejam com estruturas tão pesadas que os frades se tornaram meros executores de tarefas religiosas e tenham talvez perdido o fogo dos tempos da Porciúncula... A Porciúncula pertence a todos os frades da Ordem...Todos ouvimos, com Francisco, o convite para viver o Evangelho...

4. A Porciúncula lembra ainda o trânsito de Francisco. Nós, mais antigos, temos gravados dentro de nós os cânticos do Trânsito... Passagem, páscoa, Francisco definhando, magro, ou inchado, com os estigmas, nu, deitado na terra nua, o evangelho do adeus, os irmãos por perto, os anjos chegando, a glória se anunciando e meio apressadamente chegando ainda Fra Jacoba com os doces, a amizade, a dor de ver o amigo nesse estado e trazendo a mortalha. Ah, bendita capelinha do Trânsito. Passagem, mistério pascal na vida de Francisco e em nossa vida. Para além dos planos de pastoral, das comemorações dos oitocentos anos disso ou daquilo, estão os frades menores, discípulos de Francisco, tentando viver as coisas simples do evangelho, numa convivência que respeita cada um, sem o desejo do poder. Conformar-se a Cristo. As imagens e pinturas da Capela do Trânsito lembram tudo isso. Francisco quer sair da prisão...para cantar definitivamente a glória do Senhor... Educ de custodia.... Conformar-se com Cristo...os frades do Santuário de Vila Velha, aqueles que moram na Rocinha ou os que servem os irmãos no Provincialado. Mistério de passagens todos os dias até a passagem definitiva de cada um de nós. São coisas da Porciúncula. “Ali estava ele, deitado sobre a terra, sem sua túnica tão grosseira, fixando os olhos no céu como era seu costume e desejando de todo o coração a glória celeste. Sua mão esquerda cobria a chaga do lado para escondê-las dos olhares. Diz aos irmãos: Cumpri minha missão. Que Deus os ajude a cumprir a de vocês(2Celano 214). A morte de Francisco é a grande celebração da vida. Não sei se é aqui ou não o seu lugar, mas há uma frase de Ernest Renan, o conhecido cético ou ateu francês: “Duas grandes revoluções mudaram a história da humanidade: a cristã e a franciscana, dois nomes e dois lugares: Nazaré e Santa Maria da Porciúncula”. E por que não?

5.
No fundo da capelinha da Porciúncula há uma pintura belíssima. É uma obra prima que, no dizer de um autor, aquece e ilumina a capelinha. Trata-se de uma Anunciação. As linhas do corpo, e sobretudo de uma das mãos de Maria, são de grande delicadeza. Porciúncula, lugar do sim. Sim de Maria nas pinturas e nas obras de Andrea della Robbia. O sim de Clara. O sim de tantos franciscanos. O sim que gera Deus no homem. O sim do faça-se em mim... O sim da terra úmida que acolhe uma visita. O sim da profissão franciscana que precisa sempre de novo ser revista em sua preparação e no rito de sua realização. A Porciúncula é o lugar do sim. Quem disse que os lugares não falam? Basta chegar perto, preparar o coração e ouvir...

6. Tudo é importante em Assis para a alma franciscana ou clariana. Assis é lugar de Francisco, mas é também espaço de Clara. Santa Chiara, a basílica é simples e despojada. A Basílica, na realidade, deve ser mencionada mais para o final da caminhada, da peregrinação. A casa de Chiara não existe mais. Devia ter sido ali, bem perto da Praça de São Rufino. A gente tem vontade de parar e bater palmas para que uma janela se abra... mas a casa se foi. Na entrada da Catedral de São Rufino há uma informação importante junto ao batistério. Ali foram batizados, entre outros, Francisco de Assis, Clara de Assis e o Imperador Frederico II. Fiquei pensando... quem sabe eu já batizei pessoas que vão ser santas como Francisco e Clara... Ali, em São Rufino, num Domingo de Ramos, Clara recebeu a palma das mãos do bispo de Assis...Basta fechar os olhos e imaginar a cena... ali, naquele lugar. A casa, a infância, os pais, a fuga... Todos conhecemos a Legenda de Santa Clara. Tive a alegria de traduzir uma bela e profunda biografia de Clara escrita por Marco Bartoli. Pena que leiamos pouco. Depois de S. Rufino será preciso descer a São Damião. Ao lado do caminho há oliveiras com azeitonas ainda... E na terra da simplicidade que se chama São Damião, a singeleza das coisas simples: um refeitório, um oratório, um dormitório, a capela, a cabana onde Francisco esteve para compor o Cântico do Sol, o claustro....Não importa se nem tudo ali era assim mesmo, naquele mesmo espaço. Foi por ali. Em nosso tempo de noviciado e de formação inicial antes da profissão solene e mesmo depois, pouco ouvimos falar de Clara. Parece que hoje as coisas são diferentes, ao menos espero. Não aprecio quando textos que buscam coisas rebuscadas nas palavras e nos gestos de Clara. O que encanta em Clara não são essas idéias retorcidas e rebuscadas. Clara é o franciscanismo em forma de mulher. Ela guarda em São Damião a memória viva de Francisco e dos frades mais ligados a ele.

7. Encanta nela o carinho e a atenção que tem para com o Cristo esposo, pobre. As cartas que dirige a Inês de Praga provam bem isso...Clara é corajosa, intransigente com sua profissão de seguimento do Cristo pobre, é laboriosa e trabalhadora, cuida das irmãs, cuida de Francisco, vela pelos frades, tem vontade de ser mártir e de partir em missão. Fiquei alguns minutos no lugar onde Clara morreu... Naquele dia chovia muito e os turistas com suas máquinas de fotografias digitais tinham desaparecido. Que bom estar em Assis sem turistas...Naquele dormitório era o lugar do trânsito daquela que lutara pela Regra e pelo Privilégio da Pobreza. Rezo para que as clarissas da Gávea ou de Campina Grande, de Marilia ou de Araruama possam viver em plenitude a Regra e o Testamento de Clara... Bom seria se algumas universitárias da PUC ou não sei de onde sentissem vontade de serem clarissas. Almocei com a comunidade franciscana (OFM) de São Damião, casa de noviciado... Não se pode nunca esquecer que ali Francisco se colocou diante de um crucifixo que hoje está em Santa Chiara. E que no dizer de Celano, “coisas inaudita” , o Crucificado começou a falar...São Damião... um nome que diz muito para os francisclarianos...

8. Santa Chiara é uma basílica simples, digna de Clara. Novamente tudo é importante... A alma é o Crucifixo verdadeiro que falou a Francisco. “Iluminai as trevas de minha alma, dai-me uma fé integra, uma esperança firme, uma caridade perfeita. Concedei, meu Deus, que eu vos conheça muito para poder agir de acordo com a vossa santíssima vontade”. Prece do discernimento... Cristo que pede a Francisco e aos franciscanos que sejam força evangélica reparadora de uma igreja em ruína...A famosa tavola de Benvenuto Benveni de Foligno com Clara no centro e cenas de sua vida...Na capela do Santíssimo estão sepultadas Ortolana e as irmãs de Clara que tinham também tomado o caminho de São Damião. Sabemos que Ortolana deve ter preparado muito bem o coração da filha para sua escolha de vida. E lá embaixo o corpo de Clara. Lugar de meditação, de reflexão, de silêncio, de respeito...Imagino e desejo a família franciscana muito unida no Brasil. Os superiores de todas as Ordens e Congregações não podem permitir a diluição de alguma coisa feita com suor e que chegou mesmo a nos encantar a todos. Os frades, as clarissas e também tantas irmãs franciscanas, os irmãos da Ordem Franciscana Secular unidos para viver a maravilha de um carisma que Deus nos deu em Francisco e Clara.

9. E lá na grande Basílica de São Francisco, confiada aos nossos caros conventuais, o coração do peregrino se extasia. A arquitetura das duas basílicas, a inferior e a superior, as pinturas, os detalhes da basílica inferior e o esplendor dos quadros de cima, todo o empenho de Fra Elias no sentido de oferecer a Francisco a homenagem que ele merecia. Todos conhecem os detalhes da grande obra de arte que é a Basílica. Há, no entanto, um lugar que fala muito: o túmulo de São Francisco. O ambiente é austero e pouco iluminado. Ali estão os restos, digo bem, restos. Francisco não está ali, mas na glória, nos seus frades, no espírito de paz e bem, na paixão de tantos por ele, sejam eles cristãos ou pagãos. Francisco não está em seus ossos, mas seu sarcófago localiza sua presença física na terra. É bom estar ali, sentar-se, fechar os olhos, pensar em Francisco, esquecer das disputas entre os frades ao longo dos anos. Pensei de modo especial em Fr. Danilo Marques, Fr. Maurílio e Fr.Marino. Sempre, nesses lugares, me lembro de um canto que os novos não conhecem mais: “São Francisco não deixes que eu meça, ao amor sacrifícios, ó não, tu que tens nos teus membros impressa, de Jesus a sagrada paixão”. E, junto de Francisco, o corpo dos outros, os restos dos outros, dos companheiros da Tavola Redonda: Rufino, Ângelo, Masseo e Leão. Quando pronuncio este nome tenho como que uma doçura em meus lábios... esse Leão companheiro, que recebe a bênção, que ama o Pai Francisco e nos ensina a sermos meigos e frades. Como os lugares não falam? Vamos e venhamos. E bem diante de Francisco, do túmulo do Pai, está o sarcófago de Fra Jacoba!!! Lá estão os mais puros entre os puros... ler seus nomes, pensar em suas festas faz bem ao coração... as pedras falam, os lugares falam e falam muito. A gente deixa a cripta do túmulo com o coração aquietado... e as máquinas de retrato, e os turistas, e a agitação de fora não chega a perturbar. Fizemos uma caminhada até o lugar onde estão os restos daquele que, com Clara, são os mais importantes cidadãos de Assis e que vivem também nos cantos e gretas do coração dos peregrinos que fazem a caminhada no inverno do tempo ou no inverno da vida.

Concluindo

1.
Numa tarde fria, mas de sol, um frade irlandês me levou até o alto dos Carceri, espaço de pobreza, silêncio, contemplação. Havia ainda árvores com folhas amarelecidas outonais...Lá, distante, o vale espoletano... não longe, Perugia e Assis ali embaixo. O guardião nos recebeu com atenção e nos ofereceu um café lungho con latte. Falou da presença de Fr. Alberto Beckhäuser durante uns meses naqueles exíguos espaços e naquele santo recinto. Depois, o confrade irlandês teve a delicadeza de me levar mais alto no Subásio e lá em cima a neve. Tudo isso aconteceu em Assis, na terra de Francisco e de Clara.

2. O peregrino que viaja no inverno teve a alegria de terminar um ano litúrgico e começar outro na Basílica da Senhora dos Anjos. São solenes as vésperas. O guardião presidiu as primeiras vésperas. Capa magna, ceroferários, incenso, canto... um louvor solene. Órgão... vozes bonitas... solene culto ao Senhor por uma comunidade de frades convidada ser louvadora do Altíssimo e Onipotente Senhor. E as quatro velas do advento as escadas do altar mor... Que bom começar o ano novo litúrgico ali.

3. No momento de partir, depois da missa, o peregrino ainda resolveu percorrer os lugares. Perto da Capela pequena parecia que estava ouvindo o evangelho do ide por toda a terra. A Maria dos Anjos estava ali para garantir a todos que ela intercede por nós e pede por nós agora e na hora de nossa morte. A Capela do Trânsito gritava também... fiz a minha parte ... façam a sua....E naquela manhã de primeiro de dezembro, escura, havia uma luz que incidia sobre uma representação do presépio. O Senhor vem nos visitar....Não há que temer! Vem sem tardar!

(*) Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM é Assistente Nacional para a OFS e Assistente Regional da OFS do Sudeste II

Extraído de http://www.franciscanos.org.br/v3/vidacrista/artigos/almir_070808/artigos_11.php acesso em 20 Jan. 2009.

Foto: PEDERSEN, GB. Panorama de Assis. Maio 2006.


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