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quarta-feira, 8 de abril de 2009

Páscoa / entrevista com Maria Clara Bingemer



Deu na Conexão Professor:

“Mesmo quem não crê é obrigado a admitir: o mundo era um antes de Jesus Cristo e é outro depois dele.” A afirmação de Maria Clara Bingemer, teóloga, professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio, ajuda a entender o significado e a importância da Páscoa. Se Jesus mudou o mundo, é natural que uma das passagens mais importantes de sua história, a ressurreição, tenha dado origem à festa máxima do Cristianismo.

Nesta entrevista ao Conexão Professor, Maria Clara, que é autora de diversos artigos e livros, fala sobre o significado da Páscoa e traça um paralelo entre o tempo de Cristo e os dias atuais. Embora haja muitas diferenças – determinadas, sobretudo, pela evolução tecnológica – ela aponta semelhanças e compara o sofrimento de Maria com o das mães que perdem seus filhos de maneira violenta.

Lembrando que Cristo usava as parábolas como recurso pedagógico, Maria Clara acredita que hoje a internet e a TV digital poderiam ser os métodos e processos que Ele utilizaria para transmitir o conteúdo fundamental que trouxe ao mundo: a afirmação do amor incondicional de Deus por todos os homens e mulheres.


Conexão Professor (CP) - Para o Cristianismo/Catolicismo, qual o significado da Páscoa?

Maria Clara Bingemer - A Páscoa é a festa máxima do Cristianismo. Ela celebra a ressurreição de Jesus Cristo, filho de Deus encarnado, da morte para a vida definitiva. Celebrando isto, celebra também a convicção de fé de que os seres humanos, do qual Deus se fez definitivamente próximo em Jesus de Nazaré, também não devem ver na morte um ponto final de suas vidas.

Ou seja, com a ressurreição de Jesus de Nazaré, em quem a comunidade cristã primeira reconheceu e proclamou o Cristo de Deus, não apenas Deus Pai pronuncia sua palavra definitiva sobre a história, declarando que a vida vivida no amor radical e até as últimas consequências não morre, como também a Humanidade pode ter uma risonha esperança de que seu destino é viver para sempre com Deus graças a seu filho Jesus Cristo e à salvação que ele trouxe a todos os seres humanos. A festa da Páscoa celebra tudo isto.

CP - É possível fazer um paralelo entre o tempo de Cristo e os dias de hoje?

Maria Clara Bingemer - Sim. Embora havendo grandes diferenças – Cristo viveu numa era pré-técnica, hoje vivemos numa época de grandes progressos tecnológicos, por exemplo - há muitas semelhanças. Havia naquele tempo e há hoje grupos que, desde o poder, oprimiam e excluíam os mais fracos, os diferentes: leprosos, doentes, crianças, mulheres.

Havia, e ainda há, alguns possuindo muito e muitos possuindo pouco ou quase nada, tendo falta do necessário até mesmo para sobreviver. Havia, e há, gente boa e esperançosa, aberta e humilde, que esperava as promessas de Deus e a realização de seu reino e que por isso escutaram a mensagem de Jesus. Por isso, ontem como hoje, havia, e há, pessoas que voltaram as costas à mensagem pascal de Cristo e pessoas que a ela aderiram e entraram no movimento de seu amor redentor que transforma a História humana.

CP - No período da Páscoa, o martírio de Maria é próprio e especial. De forma bastante resumida podemos dizer que é uma mãe que perde seu filho para um mundo injusto. Situação que, infelizmente, se repete hoje em muitas famílias. Qual foi a reação de Maria e como esta reação pode servir de exemplo para a nossa sociedade?

Maria Clara Bingemer - Eu não diria martírio de Maria e sim sofrimento de Maria. Martírio é uma palavra teológica técnica e significa aqueles que morreram de morte violenta, derramando seu sangue para dar testemunho de sua fé cristã. Maria padeceu uma dor indizível com a paixão e morte de seu filho, e sua situação e dor se repetem sem dúvida hoje com muitas mulheres que perdem seus filhos de maneira violenta ou veem seus filhos condenados a uma subvida por falta de recursos e condições de dar-lhes algo melhor. Maria não fraquejou nem perdeu a esperança um só minuto. Ela não entendia nada do que acontecia, mas conhecia profundamente o seu Deus. Por isso ela esperava no Senhor seu Deus. Acompanhou seu filho até o fim e pôde viver plenamente a alegria de sua ressurreição. Ficou junto com os discípulos de seu filho após sua morte e pôde viver com eles plenamente a alegria da ressurreição, assumindo junto com toda a comunidade de seguidores de seu filho a missão a ela confiada.

CP – Jesus, Maria e Judas são personas de bastante força alegórica, assim como histórica. Um salvador, uma mulher forte e um traidor. Além da literatura sacra, este enredo influenciou inclusive a literatura geral. Como a senhora vê esta influência? Como a história de Cristo está presente na literatura?

Maria Clara Bingemer - Na literatura universal há muitas vidas de Cristo célebres: a de René Bazin é uma. Há filmes também. Mas há versões mais atuais na literatura e no cinema que contam a vida de Jesus de uma maneira mais adaptada aos tempos modernos que permite às pessoas de hoje identificarem-se com Jesus como se fosse um contemporâneo seu. Por exemplo, Frei Betto tem uma vida de Jesus intitulada “Entre todos os homens”. Muito boa. Ele pôs o nome de seus amigos nos personagens. Até eu sou personagem desse romance.

No cinema temos o filme canadense de Denys Arcand, “Jesus de Montreal”, que mostra Jesus entre um grupo de jovens no submundo de Montreal, Quebec (Canadá). Ou “Godspell”, que conta a história de Jesus como se fosse um hippie em meio a um grupo hippie dos anos 60 em Nova York. Tudo isso só demonstra como 2 mil anos depois esse Galileu que marcou para sempre a História da Humanidade continua atraindo as atenções para si mesmo. Mesmo quem não crê é obrigado a admitir: o mundo era um antes de Jesus Cristo e é outro depois dele.

CP - Durante sua vida, Cristo optou por parábolas para passar sua mensagem. Podemos entender que já naquela época ele também revolucionou processos educativos?

Maria Clara Bingemer - Sem dúvida. Falar em parábolas era um recurso pedagógico importantíssimo, para que o povo pudesse compreender o alcance de sua mensagem, revestida de elementos que faziam parte do seu cotidiano.

Assim, para um povo do campo, numa sociedade agrária, ele falava de semente, grão de mostarda etc. Se fosse hoje, falaria de internet, TV digital, globalização. Certamente encontraria métodos e processos para poder transmitir aos seus ouvintes o conteúdo fundamental que trazia: a boa nova do Evangelho, que afirmava que Deus é Pai e que ama incondicionalmente todos os homens e mulheres que vêm a este mundo. E lhes oferece como dom uma vida que não termina nunca e que é baseada apenas no amor.

Extraído de http://www.conexaoprofessor.rj.gov.br/educacao-entrevista-15.asp acesso em 08 abr. 2009.

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