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domingo, 20 de dezembro de 2009

O que fazer com o buraco da Rua?

Olá, pessoas!!! Estive muito ausente em 2010, mas é porque foi um ano de muitas mudanças. Além disso, em virtude da minha luta pela hermenêutica juvenil, fui convidado a desenvolver alguns trabalhos e escrever alguns artigos, o que me deixou sem tempo para cultivar meu próprio blog.

Mas enfim... Passado o ano, sinto enorme desejo em partilhar uma experiência que vivi este ano, numa rede de comunidades franciscanas. Foi em Rio Grande/RS, numa das etapas do curso Bíblia e Teatro, curso de parceria entre o CEBI-RS e a ONG juvenil Trilha Cidadã.

Neste curso, eu representava o CEBI. Por isso, minha missão era proporcionar a reflexão bíblica popular. Ora, trabalhando o papel social da Eucaristia nas comunidades paulinas (1Cor 11,17-34), falei sobre a importância de se organizar em pequenas comunidades para subverter o domínio cruel dos sistemas opressores.

Em seguida, as/os participantes produziram uma encenação teatral, tentando demonstrar o papel das comunidades, a partir de suas reflexões. Estava um grupo de Igreja reunido e chegou uma senhora, desesperada, pedindo ajuda. Havia um buraco na rua da casa dela e ninguém resolvia o problema.

Ela disse que alguém havia comentado que o grupo da Igreja poderia ajudá-la. Esse grupo, de fato, era muito bom na acolhida. Pediram para a senhora se sentar com eles e começaram a falar sobre os trabalhos que realizavam.

O problema é que, ao apresentarem seus trabalhos, como a Pastoral Social, Pastoral da Saúde, grupo de panificação, grupo das crocheteiras, Pastoral da Juventude, grupo de pescadores etc., queriam que ela entrasse em algum desses grupos e começasse a trabalhar em prol da Igreja.

Ela, então, perguntou: “E o buraco da minha rua?” Alguém virou pra ela e disse: “Ih, nem esquenta! Deixa o buraco pra lá! Se a senhora começar a trabalhar aqui conosco, verá que o buraco nem incomoda tanto assim...”

Ao fim da peça, havia uma avaliação cênica e outra de conteúdo da mensagem. Chegou a minha vez de falar e eu comentei: “O grande problema de nossas igrejas é justamente este! Em vez de oferecer vida, oferecemos trabalho! Por isso, a Igreja está vazia! Somos um bando de tarefeiros! E o que é pior... Fazemos tudo em prol da Igreja-Templo (as famosas construções que nunca terminam), em prol do Padre (sempre que chega um padre novo, a comunidade quer mobiliar a casa dele), ou para alívio de nossas consciências (distribuição de comida, festas com distribuição de balas e brindes para crianças e jovens carentes etc.)! Mas não nos comprometemos com a realidade dos nossos próprios paroquianos, com seus problemas cotidianos, sequer com coisas simples como um buraco de rua.”

As pessoas ficaram muito bravas comigo. Muitas não voltaram na etapa seguinte. Pior... Nem no dia seguinte. Mas não me arrependo. Sei que essas pessoas estão pensando até agora no que falei.

Comunidade não é preparar uma liturgia, um bingo, uma festa.

Comunidade é dizer “não” ao sistema vigente, onde o que vale é o egoísmo e a competitividade. Comunidade é ser um grupo de irmãos e irmãs, vivendo como os primeiros cristãos, que possuíam tudo em comum (At 2,44; 4,42), inclusive os problemas.

Por isso, uma coisa ainda me incomoda... Como ficou o buraco da rua daquela senhora?

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