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segunda-feira, 13 de junho de 2011

Homilia do Ministro Geral OFM em Canindé, 04 jun. 2011

Missa de Abertura do VIII Centenário da Fundação
Das Irmãs Pobres de Santa Clara

Queridas Irmãs Clarissas, Irmãos e Irmãs,
 
“O Senhor vos dê a paz!”

Às vésperas do último Domingo de Ramos iniciamos em Assis as celebrações do VIII Centenário da consagração de Clara na Porciúncula e com isso o início da Ordem das Irmãs Pobres de Santa Clara. Hoje o fazemos aqui, neste Encontro da Federação Sagrada Família que representa todas as Irmãs Clarissas espalhadas no território do inteiro Brasil. E o fazemos tendo presente as cerca de 20 mil Clarissas no mundo inteiro, e neste contexto nós perguntamos: que queremos celebrar durante este Ano Jubilar?
 
A resposta me parece óbvia e eu a formularia com as palavras de João Paulo II no início do III milênio. Queremos olhar o passado com gratidão, viver o presente com paixão e abraçar o futuro com esperança (cf. NMI 1). Olhar, viver, abraçar, gratidão, paixão, esperança são atitudes que não podem faltar na celebração deste VIII Centenário da Fundação da Ordem das Irmãs Pobres de Santa Clara.

Não se trata, portanto, de celebrar somente uma data histórica. Isto seria simplesmente fazer arqueologia e tudo se concluiria como um fato de crônica. Trata-se de ver estes 800 anos com o olhar de Deus, isto é: com os olhos da fé, contemplando tudo o que de bom fez o Senhor através de Francisco e da sua “plantinha” a Irmã Clara, contemplar todo o bom e o bem que o Senhor realizou e segue realizando através dos Irmãos Franciscanos e neste ano sobretudo através das Irmãs Clarissas de ontem e de hoje. Contemplando o passado com os olhos de Deus, com os olhos da fé, a história que aparentemente se apresenta como uma simples história humana, acaba sendo “história de salvação”. O que para um simples historiador é um suceder-se de acontecimentos, com luzes e sombras como em toda a obra humana, para um cristão, para um Franciscano, ou para uma Clarissa tudo acaba sendo um tempo de graça no qual também há falhas, fragilidades inclusive infidelidades que, porém, são sinais e oportunidades para bendizer e louvar o Altíssimo, Onipotente e Bom Senhor, “do qual procede todo dom precioso e toda dádiva perfeita” (Tg 1,17). É na nossa fraqueza (defeito) que se manifesta a grandeza e a bondade do Senhor.

Escutemos todos, e particularmente vós minhas queridas irmãs Clarissas , as palavras da Irmã Clara em seu Testamento e consideremos os imensos dons que Deus tem derramado sobre vós durante estes 800 anos, e dai graças sem sessar ao Pai das Misericórdias por tanta bondade (cf. TestC 2,6). Vossa história é graça, vossa história é surpresa de um Deus que se colocou de vosso lado. Que este Ano Jubilar possa transcorrer em ininterrupto louvor à Santíssima Trindade (cf Ap 11,17), sobretudo pelos frutos de santidade que concedeu à nossa comum e única Fraternidade e que representam “ao vivo o rosto de Cristo”. Esta é uma herança que não se pode perder ou descartar, pelo contrário deve ser transmitida como um dever de perene gratidão e com renovado propósito de imitação (NMI 7).

O Centenário, não sendo um simples fato de crônica que olha só para o passado, se converte deste jeito em acontecimento do presente que visa levar-nos a viver com paixão este tempo que o Senhor nos concede. E quando falamos de paixão, falamos de entrega total e incondicional, falamos de uma vida vivida na lógica do dom, da gratuidade. É a experiência de toda a pessoa profundamente enamorada, que só pensa na pessoa amada, querendo agradá-la nos dias comuns e nos dias festivos, nas pequenas e nas grandes ocasiões. Esta tem sido a experiência de “nosso bem-aventurado Pai Francisco, verdadeiro amante e imitador” do Filho de Deus, como define Santa Clara em seu Testamento (TestC 5). Esta tem sido a experiência de Clara, a “plantinha” de Francisco, a “mulher cristã”. Esta foi e segue sendo a experiência de tantas Irmãs e Irmãos que, conhecendo a beleza e a perfeição da vocação recebida (TestC 3), lembrando-se de sua decisão de seguir de perto o Evangelho como Regra e vida, estão dispostos, “em rápida corrida, com passo ligeiro e pé seguro”, a seguir o caminho traçado pelo mesmo Jesus.

Vivamos, pois, minhas queridas Irmãs e queridos Irmãos este Centenário não só como memória do passado, mas também como profecia do futuro (NMI 3), de tal modo que nos leve a voltar o primeiro amor, como diz o Profeta Oséias (Os 2) e a renovar a entrega generosa e apaixonada dos nossos primeiros dias. Não vamos ceder nunca à tentação de domesticar as palavras proféticas do Evangelho, nossa Regra e vida (cf. 2R 1,1; RSC 1,1). Acolhamos, antes, a urgência de nascer e começar sempre de novo (cf. Jo 3, 3), tanto em âmbito pessoal como fraterno. Sejamos protagonistas em fazer surgir uma nova primavera em nossas vidas e em nossa fraternidade, e se para dar mais fruto, ou seja, se para tornar nossa vida e missão mais significativa e profética se for necessário fazer poda (cf. Jo 18, 20-26), assumamos tal exercício, sendo doloroso e sangrento, como uma possibilidade que o Senhor nos oferece para poder re-significar-nos e sermos sinais legíveis de vida no momento histórico sedento de “novos céus e novas terras” (Is 65, 17; Ap 21, 1). Que este Centenário seja um verdadeiro kairós que nos permita conformar-nos plenamente com Cristo e “repropor corajosamente o espírito de iniciativa, criatividade e a santidade” de Francisco e de Clara, “como resposta aos sinais dos tempos no mundo de hoje” e como garantia de uma profunda renovação de nossa vida, fiel a inspiração originária de nosso carisma franciscano/clariano (cf. VC 37). Vivamos nossa vocação como verdadeiros enamorados de Cristo Pobre e Crucificado, como em seu tempo o fizeram Francisco e Clara, pois só assim poderemos abraçar o futuro com esperança.
Este deve ser Irmãos e Irmãs o fruto precioso deste Centenário: voltar nosso olhar para o futuro, para o qual nos impele o Espírito, porque Aquele que escreveu no passado uma grande história em nossa fraternidade de Irmãos e de Irmãs, deseja seguir escrevendo conosco uma grande história no presente e no futuro (VC 110).

Para isso, porém, temos de assumir uma permanente atitude de conversão e de renovação, buscando, quando seja necessário, novas formas para expressar a beleza e a atualidade do carisma franciscano/clariano, o qual exige, como pede Clara em seu Testamento, conhecer nossa vocação. Como irmão que vos quer e vos ama, queridas Irmãs Clarissas, hoje no inicio deste Centenário vos peço que presteis particular atenção à vossa identidade, que passa necessáriamente por uma revitalização da vossa vida em fraternidade – sois Irmãs– por uma vida significativa de pobreza, porquanto possa viver sem nada de próprio- sois Irmãs Pobres - e possam assumir com alegria vossa condição de Clarissas sem dupla pertença, pois sois Irmãs Pobres de Santa Clara. E, para consolidar esta identidade, sede em todo momento contemplativas, o que implica em fazer experiência profunda de Deus. Para isso é necessária uma intensa vida de oração pessoal e fraterna, familiaridade com a Palavra de Deus em atitude de fé, através da leitura orante da Palavra e uma vida sacramental profunda.

Ao longo deste Centenário, como nos pedem as leituras apenas proclamadas, em profunda comunhão com Francisco e Clara, deixai-vos queridas Irmãs, deixemo-nos queridos Irmãos, conduzir ao deserto,para renovar aí a nossa união com Cristo, a vossa união esponsal com Cristo em justiça, misericórdia e fidelidade (Os 2,17.21-22), a vossa pertença exclusiva a ELE eu sempre descubro neste Evangelho que acabamos de proclamar, me chama atenção que por dez vezes o Senhor nos pede de permanecer... permanecer, sem ELE não podemos dar frutos, sem ELE não podemos fazer nada. E fazendo memória do nosso e vosso propósito, como dizia Clara, “permaneceremos sempre unidos a Ele, como os ramos à videira, para que demos fruto e fruto abundante (cf. Jo 18, 20-26).
 
Que o Senhor vos conceda queridas Irmãs Clarissas, que o Senhor nos conceda a todos nós de viver este Ano Jubilar com este sentimento e palavras que eu repito ainda uma vez do Beato João Paulo II, significa “voltar ao passado com muita gratidão, abraçar o futuro com muita esperança”, porque Deus é vivo, e o carisma de Francisco e de Clara está vivo, e para isso para abraçar o futuro com esperança, e viver o presente com paixão.

Paz e Bem Irmãs e Irmãos.

Frei José Rodriguez Carballo, OFM
Ministro Geral
 
Canindé (CE), 04 de junho de 2011.

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