Arquivo do blog

sábado, 20 de agosto de 2011

Pedagogia de Santa Clara de Assis

 A palavra Pedagogia tem origem na Grécia antiga:
páidos (criança ) agogé (condução) = processo de aprendizagem, condução de uma criança.
Segundo Paulo Freire, a pedagogia centraliza-se na dimensão do conhecimento, sentimento de aceitação do outro, da interação, da intersubjetividade. A palavra está relacionada com educação= conduzir, guiar,orientar. Educação é, em síntese, um fazer sair, extrair, dar à luz.  
É na relação com o outro que nos humanizamos. Precisamos nos humanizar, que quer dizer: conversão, interação na questão de gênero. São Francisco e Santa Clara são referências de pessoas profundamente humanas, constroem a humanização na relação com o outro.
 A Pedagogia Clariana tem na sua base a experiência concreta vital de Clara de Assis. Uma mulher de coração apaixonado pela vida e pelo Deus da Vida. Precisamos ser apaixonados pela vida para poder encantar. A pedagogia de Clara consiste em uma maneira de ser e se relacionar, e tão importante quanto o conteúdo é como se vive.
Ninguém se torna homem/mulher a não ser pelas relações que mantém no meio ambiente onde veio à luz. O homem/mulher que me tornei por mil encontros em que meu ser homem/mulher foi-se elaborando pouco a pouco.
 “A MUDANÇA, CONVERSÃO PESSOAL, PASSA PELA MUDANÇA DE OLHAR”.
 O olhar é a janela da alma. O jeito de olhar revela o modo, o ângulo, a sensibilidade por meio do qual a alma vê o mundo.  Qual é o meu olhar? Qual é o meu modo de olhar?
Existem vários tipos de olhares:
§  indiferente- que não vê nada
§  objetivante -
§  inquisitor- perigo
§  possessivo- vê objetos 
§  acolhedor
§  comunicativo
§  amoroso
 Isso tudo é um exercício de vida, consequência do que se vive por dentro. Toda a forma de ver passa por um aprendizado. Como Clara: olhe, considere, contemple e deseje imitar/seguir a Jesus.   
CARTAS DE CLARA.
Clara escreveu quatro cartas a Inês de Praga. Isto não quer dizer que foram só estas, podem ter sido mais, mas que se perderam. Nas cartas e escritos de Clara, diferentemente de São Francisco, existe um fio condutor. Ela era uma mulher letrada. Foi ela a primeira mulher a escrever uma Regra de Vida para as Irmãs.
Quem era Inês? Filha do Rei Otocar e da Rainha Constância da Hungria. Foi prometida em casamento a diversos príncipes. Perdeu o pai quando estava prometida em casamento. Começou então a dedicar-se a obras de caridade. Conheceu Clara através dos Freis Menores. Por meio da Igreja foi comunicado que não iria se casar.   
 Nas cartas, Clara é muito pessoal e livre, com uma rica doutrina espiritual. Seu tema é sempre Jesus Cristo (pobre, humilde, esposo, como característica original de Clara). Ela não teoriza, mas fala de sua vivência.
A entrega a Ele é feita em uma virgindade cada vez maior. VIRGINDADE que quer dizer abertura, entrega total ao outro, contemplação, não nega o Amor, mas entrega-o totalmente a Deus. Contemplação e virgindade, um só e único dinamismo.
A doutrina que apresenta em suas cartas, Clara primeiramente a viveu intensamente, não com espiritualismo, mas com espiritualidade. Sua experiência de pobre, de contemplativa, de alegre esposa é vibrante. Seus escritos são concisos, claros e carinhosos.
PRIMEIRA CARTA DE CLARA A INÊS DE PRAGA
Foi escrita antes da grande festa de despedida que a corte real de Praga ofereceu a Inês no dia de Pentecostes, em 1234. Assim começa “A venerável e santa virgem, dona Inês, filha do excelentíssimo e ilustríssimo Rei da Boêmia”.
O motivo que perpassa a carta é a sagrada TROCA feita por Inês. Ela trocou a gloria terrena pela pobreza e privações. Ser esposa se Cristo ao invés de ser esposa de Frederico II.
SEGUNDA CARTA DE CLARA A INÊS DE PRAGA
Clara coloca-se do lado de Inês na luta pelo ideal da pobreza absoluta. O foi condutor da segunda carta é o CAMINHO. “Não perca de vista seu ponto de partida”. Não desviar-se do que quis desde o principio. O único necessário é a identificação com o Cristo POBRE.
Discernimento: “Mesmo que mereça sua veneração, não siga o seu conselho”.
Método de contemplação (atitude de vida que parte dos sentidos): Com o desejo de imitá-lo
OLHE, CONSIDERE, CONTEMPLE- alimentar este desejo, pois só consegue isso quem deseja viver.
 TERCEIRA CARTA DE CLARA A INÊS DE PRAGA
Carta em que Clara dirige palavras de consolo. Provável decepção de Inês à resposta negativa do Papa de viver segundo a forma de vida franciscana. O tema com o qual Clara espera consolar Inês é o da MORADA. Inês é uma morada de Deus.
Orienta sobre o método de contemplação(esforço, desejo, querer, ver o sagrado com ação): colocar-se por inteira, pela contemplação na imagem da divindade. Ela diz: “Não fiques a considerar o não que te foi imposto. Não fiques sempre a pensar que o Papa não te quis atender, mas vê o sim que Deus te fala”.
Também fala da pratica do Jejum como o lado festivo da vida. Superação da limitação humana (sair de si - entrar em si). Jejum é coisa para pessoas sadias, enfermas não devem fazer.
Prudencia: capacidade de discernimento, o que é sensato e o que é insensato em relação ao jejum.
 QUARTA CARTA DE CLARA A INÊS DE PRAGA
O tema central é o do ESPELHO (principio da pobreza). É a carta de despedida. Clara entoa desde já o louvor escatológico definitivo e supremo de Deus. Na carta, percebe-se como, em face da morte, Clara experimente e como procura transmitir a amiga. 
VIRGINDADE
  §  vida de intimidade pessoal com Cristo;
  •   Um completo mergulhar no TU de Deus;
§  um estar totalmente cheio da presença do divino OUTRO;
§  virgindade, não ausência, mas presença;
ESPELHO
§  algo que torna visível uma coisa invisível;
§  Deus só pode ser conhecido em espelho(criação, Jesus Cristo...);
§  o ser humano permanece invisível para si mesmo a não ser que se olhe no espelho;
§  Jesus espelho, visibilizou Deus; 
§  o espelho é toda a vida de Jesus, do nascimento à morte; 
“Olhe dentro desse espelho todos os dias...”
METODO DOS QUATRO PASSOS DE CONTEMPLAÇÃO
PRIMEIRO PASSO:
OLHA – deixa-te atingir pelo Cristo, realidade contemplada. Contemplação é essencialmente intuição, o dom de ver o essencial, ser atingido pelo cerne de uma coisa, de uma pessoa, ser atingido pelo cerne do mistério que em tudo se oculta.
Para olhar é preciso sair de si, focar, voltar todos os sentidos para alguém, para o objeto.
SEGUNDO PASSO:
CONSIDERA – Pergunta pelo significado do que foi intuitivamente conhecido, pelo valor objetivo e existencial do que foi contemplado (entra a razão) compreender conhecer (fazer parte).
TERCEIRO PASSO:
CONTEMPLAÇÃO – é o repousar contemplativo (ver além, o sagrado) naquele que foi reconhecido em seu valor, o olhar que assimila o que possui importância objetiva e pessoal.
QUARTO PASSO:
DESEJANDO IMITAR/SEGUIR – na própria contemplação está contido o passar para a prática. A contemplação precisa aprender a compreender-se como uma ponte para a ação concreta, como imitação/seguimento a Jesus Cristo.
Como eu saio da oração? Como fica meu rosto?
Ser pessoas afetivas, trazendo presente a dinâmica do coração, da vontade, do querer, do desejo, deixando-se afetar.  Clara foi profundamente humana, por isso, profundamente de Deus. 
 RELAÇÃO DE FRANCISCO E CLARA 
            A relação fraterna entre irmãs e irmãos parte da busca, da relação com o outro:
§  A relação fraterna parte da busca, de ir ao encontro. Preciso sair de mim, desejar me encontrar. Quando nos dispomos a sair de nós mesmos e ir ao encontro do outro, não sabemos o que vamos encontrar.
§  Quem não tem mal não tem o que esconder. Francisco e Clara sempre tinham outro companheiro junto para preservarem-se. Nos também devemos manter o devido cuidado.
§  Crescer juntos em vista de um projeto. 
§  A relação fraterna se sustenta por um projeto comum. O que eu quero no encontro com o outro? O que sustenta esta relação? Clara não estava buscando Francisco e sim o Cristo que estava nele. Francisco auxiliou Clara no seu projeto de vida. No encontro com o outro, na dificuldade, como eu lido com isso? Fujo ou aproveito a oportunidade para crescer?  A cruz é necessária para a vida nova. Em minhas relações de amizade que tenho, qual é o projeto comum que temos?Em torno de que estão nossas conversas? Em torno de quem e do que nos relacionamos? O que queremos?  
§  O/a irmã/o, à luz de Francisco e de Clara, se tornam mediações de Deus. Francisco era apoio, coluna, sustentáculo.
§  Relação fraterna necessita do cultivo do segredo, da mística, do bem-querer profundo, que respeita a sacralidade do outro e sua originalidade. Existe hoje uma crise de confiança. Como manifesto o meu amor? Como lido com as palavras de amor ditas? Um amor que tem raízes, que não é superficial. Integração do masculino e feminino.  
 AMAR PARA TORNAR-NOS HUMANAS, FRANCISCANAS, CRISTÃS.
Irmã Marcia Barcarollo

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Firefox